quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Consonância e Dissonância

A arte é, em seu grau ínfimo, uma simples imitação da natureza. Mas a imitação da natureza no seu mais amplo sentido, não mera imitação da natureza exterior, sendo também da interior. Com outras palavras: não expõe simplesmente os objetos ou circunstâncias que produzem a sensação, sendo, sobretudo, a sensação mesma (a sensação em si).Em seu nível mais alto, a arte se ocupa unicamente de reproduzir a natureza interior. Seu objeto é aqui a imitação das impressões que, através da associação mútua com outras impressões, conduzem a novos complexos, a novos movimentos.”
     “O material da música é o som, que atua diretamente sobre o ouvido. A percepção sensível provoca associações e relaciona o som, o ouvido e o mundo sensorial. Da ação conjunta desses 03 fatores depende tudo o que há de arte na música. Acontece como na combinação química, que possue qualidades distintas à dos elementos que a compõe.”
    “Para repetir: a matéria da música é o som. Deverá, portanto, ser considerado em suas peculiaridades e efeitos, capaz de gerar arte. Todas as sensações que provoca, ou seja, os efeitos que produzem suas peculiaridades, tem nesse sentido um influxo sobre a forma (da qual o som é elemento constitutivo), ou seja, sobre a obra musical. Na sucessão dos harmônicos superiores, que é uma de suas propriedades mais notáveis, aparece, depois de alguns sons mais facilmente perceptíveis, um número de harmônicos mais fracos. Sem dúvida, os primeiros sons mais familiares ao ouvido, diferentes do últimos, apenas audíveis, resultam mais inusitados. Dito de outra maneira: os mais próximos parecem que contribuem mais (ou de maneira mais perceptiva) ao fenômeno total do som, ou seja, ao som como suscetível de produzir arte, ao contrário, os mais distantes parecem contribuir menos (ou de maneira menos perceptível). Mesmo que todos contribuam mais ou menos, é seguro dizer que na emanação acústica do som nada se perde. E também é seguro que o mundo sensorial está em relação com esse complexo total dos harmônicos. Se os mais distantes não podem ser analisados pelo ouvido, são, em troca, percebidos como timbre. O que quer dizer que o ouvido musical há de renunciar aqui a uma análise precisa, mas a impressão se percebe perfeitamente. Se captam com o inconsciente, e quando afloram à consciência se analisam e se estabelece sua relação com o complexo sonoro total. Esta relação, digamos outra vez, é a seguinte: os harmônicos mais próximos contribuem mais, os mais distantes, menos. A diferença entre eles é de graduação, não essencial. Não são (expressos pelas suas frequências) opostos, como tampouco o são o número 2 e o número 10; e as expressões ‘consonância e dissonância’, que fazem referência a uma antítese, são errôneas. Depende somente da crescente capacidade do ouvido analisador para familiarizar-se com os harmônicos mais distantes, ampliando assim o conceito de “som suscetível de se gerar arte”, e que todos esses fenômenos naturais tenham um ponto (um lugar) no conjunto.”
   “A consonância mais perfeita (depois do uníssono) aparece na sucessão dos harmônicos da primeira, e por ele mais frequentemente com maior força sonora: a oitava. Segue a quinta, e logo a terça maior. A terça menor e a sexta maior e menor, por um lado, não são relações do som fundamental, e por outro lado, não se encontram na série ascendente dos harmônicos. Isso explica porque se questionou em outra época se eram ou não consonâncias. Pelo contrário, a quarta, designada como consonância imperfeita, é uma relação do som fundamental, mas em direção oposta; poderia se encontrar entre as consonâncias imperfeitas, como a terça menor e a sexta menor e maior, ou bem entre as consonâncias, sem motivo aparente, como ocorre às vezes. Mas a evolução da música seguiu outro caminho e coloca a quarta numa posição especial. Como dissonâncias só se consideram: segunda menor e maior, sétima menor e maior, nona, ... além de todos os intervalos aumentados e diminutos.”




   Exemplo de uma série harmônica:
         
    


Relações intervalares do som gerador com os primeiros harmônicos:
    


Relações intervalares entre harmônicos consecutivos:
    


Os 04 primeiros harmônicos da série tem relações intervalares de 8ª (justa), 4ªjusta e 5ªjusta, que na Harmonia Funcional simbolizarão, a princípio, o REPOUSO (I grau), o AFASTAMENTO (IV grau) e a TENSÃO (V grau). Isso diz respeito ao que chamamos de Dinâmica Tonal(básica).

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