quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Modos Gregos - II Parte



Esse é, com certeza, um dos assuntos mais pedidos pelo pessoal para discutirmos aqui no Maestro Nu. Sempre quando alguém está estudando escalas, se depara com as tão famosas "escalas gregas", ou usando o termo correto: Modos gregos.
Aqui, falaremos sobre toda a teoria existente dentro desses modos, buscando esclarecer qualquer tipo de dúvida que vocês possam vir a ter. Mas mesmo assim, se alguma coisa não ficar clara, deixem um comentário ou então mandem-nos um e-mail.


  • Definição


Na Grécia antiga, as diversas organizações sonoras (ou formas de organizar os sons) diferiam de região para região, consoante as tradições culturais e estéticas de cada uma delas. Assim, cada uma das regiões da antiga Grécia deu origem a um modo (organização dos sons naturais) muito próprio, e que adaptou a denominação de cada região respectiva. Desta forma, aparece-nos o modo dórico (Dória), o modo frígio (da região da Frígia), o modo lídio (da Lídia), o modo jónio (da região da Jónia) e o modo eólio (da Eólia). Também aparece um outro — que é uma mistura — denominado modo mixolídio.


  • História


Historicamente, os modos eram usados especialmente na música litúrgica da Idade Média, sendo que poderíamos também classificá-los como modos "litúrgicos" ou "eclesiásticos". Existem historiadores que preferem ainda nomeá-los como "modos gregorianos", por terem sido organizados, também, pelo papa Gregório I, quando este se preocupou em organizar a música na liturgia de sua época. No final da Idade Média a grande maioria dos músicos foi dando notória preferencia aos modos jónio e eólio que posteriormente ficaram populares como Escala maior e Escala menor. Os demais modos ficaram restritos a poucos casos, mas ainda são observados em diversos gêneros musicais. O sétimo modo, o lócrio foi criado pelos teóricos da música para completar o ciclo, mas é de raríssima utilização e pouca aplicabilidade prática. De fato, o modo lócrio existe como padrão intervalar, mas não como modo efetivamente, visto que a ausência da quinta justa impede que haja sensação de repouso na tríade sobre a nota fundamental.

  • Fundamentação

Os modos baseiam-se atualmente na escala temperada ocidental, mas inicialmente eram as únicas possibilidades para a execução de determinados sons. Desde a antiga Grécia os modos já se utilizavam caracterizando a espécie de música que seria executada. Os modos, bem definidos então, eram aplicáveis de acordo com a situação, por exemplo: se a música remetia ao culto de um determinado deus deveria ser em determinado modo, e assim para cada evento que envolvesse música. Com o temperamento da escala e a estipulação de uma afinação padrão, os modos perderam gradativamente sua importância visto que a escala cromática englobava a todos e harmonicamente foi possível classificá-los dentro dos conceitos "maior e menor". O uso de frequências determinadas possibilitou o desenvolvimento das melodias na música juntamente com a harmonia e, com isto, na atualidade, os modos facilitam a compreensão do campo harmónico e sua caracterização, mas não possuem mais funções individuais. O fato de não mais estabelecermos diferença entre bemol e sustenido na escala cromática veio a restringir ainda mais o emprego de modos na música, senão como elemento teórico. Os modos podem ser entendidos com extensão da escala natural de dó maior. As notas dó ré mi fá sol lá si fazem parte de dó jônico. Se aplicarmos essas mesmas notas transformando a tónica em ré, teremos ré mi fá sol lá si dó, um ré menor dórico. Em mi menor temos mi fá sol lá si dó ré mi, um mi menor frígio, e assim por diante.


  • Entendendo


Partimos da escala padrão diatónica (a que se forma pelas notas sem acidentes) dó - ré - mi - fá - sol - lá - si, e sobre cada uma destas notas criamos uma nova escala diatónica. Quando fazemos isto, a relação dos tons é alterada, consequentemente todo o campo harmónico também muda, visto que, ao estabelecer uma nota como a inicial, estabelece-se a tónica da nova escala. Para ser mais claro, na escala musical temos funções que classificamos como graus para cada uma das notas, de acordo com sua posição acerca da primeira. Portanto, (nota por nota) sendo os graus: tónica, super-tónica, mediante, sub-dominante, dominante, super-dominante e sensível (para, por exemplo: dó - ré - mi - fá - sol - lá e si), o que mudamos no sistema modal é esta função de cada uma, criando uma nova relação entre os graus e notas. Tudo isso deve-se unicamente por estabelecermos uma nova tônica mantendo os intervalos.


  • Os modos maiores


1. Jônio

O modo jônio é um modo musical ou escala diatônica. Era parte integrante da teoria musical da Grécia antiga, e era baseada em torno da escala natural relativa em Dó (C, i.e., a mesma tocada por todas as teclas brancas de um piano de dó a dó). Essa escala simples foi chamada de modo hipofrígio (subfrígio) na teoria grega, e o modo jônio atual deve ter sido originado a partir de uma variação deste.
O termo modo jônio caiu em desuso na Europa medieval, à medida que a música sacra baseou-se entorno de oito modos musicais: a escala natural relativa em ré (D), mi (E), fá (F) e sol (G), cada qual com seu modo autêntico e modo plagal em contrapartida. Contudo, a teoria musical helênica foi mal compreendida, e os modos em sol foram chamados mixolídio e hipomixolídio (modos autêntico e plagal, respectivamente).

 

Em 1547, Heinrich Glarean publicou seu Dodecachordon. Essa obra tinha como premissa a existência de doze modos diatônicos ao invés de oito. Parece que o repertório popular de então usava parte desses modos adicionais, mas não o repertório oficial de música sacra. Glarean tomou emprestado o termo jônio para um modo um tanto diferente do original. Ele adicionou o jônio como o nome do novo onzeno modo: o modo natural relativo em dó com a quinta como sua dominante. O décimo-segundo modo, a versão plagal do modo jônio, foi denominado hipônio (subjônio), baseado na mesma escala relativa, mas com uma terceira menor como sua dominante, e tendo o alcance melódico a partir de uma quarta perfeita abaixo da tônica até uma quinta perfeita acima desta.
Como a música polifônica substituiu a música monofônica medieval, os modos populares adicionados por Glarean tornaram-se as bases da divisão entre escala menor e escala maior, criadas pela música clássica européia.
O modo jônio criado por Glarean, é efetivamente igual ao modo lídio original da grécia antiga, bem como ao modo maior moderno.

2. Lídio

O modo lídio forma-se estabelecendo como tônica a quarta nota da escala diatônica, podendo ser classificado como um modo maior, possui a seguinte relação intervalar:



3. Mixolídio

O modo mixolídio forma-se estabelecendo como tônica a quinta nota da escala diatônica, sendo um dos modos maiores, possui a seguinte relação intervalar: - T - T - st - T - T - st - T (onde T = tom e st = semitom).





  • Os modos menores


1. Dórico

O modo dórico forma-se estabelecendo como tônica a segunda nota da escala diatônica, possuindo a seguinte relação intervalar:

 

2. Frígio

O modo frígio forma-se estabelecendo como tônica a terceira nota da escala diatônica, pode ser classificado como um modo menor, possui a seguinte relação intervalar:



3. Eólio

Suas origens remotam à teoria musical formada na Grécia antiga, baseada entorno da escala natural relativa em lá (A, i.e., a mesma nota tocada pelas teclas brancas do piano de lá a lá). A tradição helênica nomeou essa escala simples de modo hipodório (subdório); o atual modo eólio e o modo lócrio devem ter sido formados a partir de variações daquele (talvez baseados em escalas cromáticas).
O termo modo eólio caiu em desuso na Europa medieval, à medida que a música sacra baseou-se entorno de oito modos musicais: a escala natural relativa em ré (D), mi (E), fá (F) e sol (G), cada qual com seu modo autêntico e modo plagal em contrapartida.
Em 1547, Heinrich Glarean publicou seu Dodecachordon. Essa obra tinha como premissa a existência de doze modos diatônicos ao invés de oito. Parece que o repertório popular de então usava parte desses modos adicionais, mas não o repertório oficial de música sacra. Glarean adicionou o eólio como o nome do novo nono modo: o modo natural relativo em lá com a quinta como sua dominante. O décimo modo, a versão plagal do modo eólio, foi denominado hipoeólio (subeólio), baseado na mesma escala relativa, mas com uma terceira menor como sua dominante, e tendo o alcance melódico a partir de uma quarta perfeita abaixo da tônica até uma quinta perfeita acima desta.
Como a música polifônica substituiu a música monofônica medieval, os modos populares adicionados por Glarean tornaram-se as bases da divisão entre escala menor e escala maior, criadas pela música clássica européia.
O modo eólio, como se aplica atualmente na música ocidental, possui a seguinte constituição intervalar:



4. Lócrio

O modo lócrio é o único dos sete modos que foi criado teoricamente (para completar o ciclo), sendo que não existia junto aos outros seis modos antigos. Pode ser classificado como um modo menor ou ainda, segundo alguns estudiosos, como um modo diminuto. Forma-se estabelecendo como tônica a sétima nota da escala diatônica, possuindo a seguinte relação intervalar:




  • Entendendo melhor


Para sabermos utilizar tais sistemas na prática, devemos ter em mente que a escala musical actual é cromática, portanto, podemos estabelecer uma tonalidade e sobre esta (sem mover a nota da tónica) estabelecer cada uma das funções de um modo.
Ex.: Partindo sempre da nota dó
Jônio: dó - ré - mi - fá - sol - lá - si
Dórico: dó - ré - mi♭ - fá - sol - lá - si♭
Frígio: dó - ré♭ - mi♭ - fá - sol - lá♭ - si♭
Lídio: dó - ré - mi - fá♯ - sol - lá - si
Mixolídio: dó - ré - mi - fá - sol - lá - si♭
Eólio: dó - ré - mi♭ - fá - sol - lá♭ - si♭
Lócrio: dó - ré♭ - mi♭ - fá - sol♭ - lá♭ - si♭
Isso cria, para cada modo, um novo campo harmónico, uma tónica em escalas diferentes.


  • Aplicabilidade


Para aplicarmos os modos praticamente, devemos ter conhecimento sobre harmonia para compreender os encadeamentos harmônicos que cada escala modal propõe. Na realidade, é muito simples: se, por exemplo, tocamos uma música na tonalidade de dó maior, cuja tônica (estabelecemos) é o sol, estamos trabalhando com o modo "sol mixolídio" (muito usado em músicas nordestinas). Se, harmonicamente, em uma música cujo tom está em dó maior, surge um acorde de ré maior, estamos no modo "dó lídio". Conhecer os modos facilita a interpretação e composição musical, desde que tenhamos bem óbvia a questão da harmonia.

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