quarta-feira, 17 de março de 2010

Jazz, rock, fusion, sem confusion

Nesta minha primeira aparição por aqui gostaria de falar do fenômeno fusion. Quero recomendar músicos e bandas, falar da transição dos estilos, dicas para tocar e qualquer outra coisa interessante que eu me lembrar nos próximos minutos.

Comecei tocando guitarra há quase vinte anos atrás, interessado unicamente pelo rock. Apaixonei-me tão intensamente pelo instrumento que aos 16 anos de idade tocava profissionalmente nos arredores da minha cidade acompanhando bandas de rock e blues. Naquele tempo eu estava começando a fazer uma transição do rock para algo que até então era novo para mim, o fusion.

Não diferentemente de muitas pessoas, a principal banda que me abriu os olhos para o estilo foi a Chick Corea elektric band, com Dave Weckl na bateria, Frank Gambale na guitarra, John Patitucci no baixo e o próprio Corea nos teclados.

O som dos caras tinha toda a energia do rock, mas trazia algo que para mim era inusitado, improvisos verdadeiros, interação entre músicos e elementos rítmicos do jazz.

Depois que esta porta se abriu para mim foi um caminho sem volta, cada dia mais pesquisava e tentava inserir elementos do jazz na minha maneira de tocar. Em pouco tempo eu estava ouvindo de tudo que possuía elementos jazzísticos em suas entrelinhas, da música brasileira e latina ao jazz tradicional e moderno.

Um divisor de águas foi a minha ida a faculdade Berklee em Boston, onde pude hibernar profundamente neste universo do jazz-fusion e da livre improvisação.

Hoje, muitas pessoas me procuram interessadas em tocar fusion, e nesses últimos anos notei que muito daqueles que tocam rock querem tocar fusion sem ter uma noção mais aprofundada do jazz e o mesmo acontece com músicos de jazz que querem tocar fusion sem uma noção mais íntima com o rock.

Apesar das muitas mutações que a palavra fusion sofreu nestes últimos anos, o mais querente seria dizer que o fusion é, essencialmente, a mistura do jazz com o rock. E partindo desse parâmetro quero expor alguns questionamentos importantes para se tocar o estilo.

No Brasil, a maioria dos músicos, tal como eu, se iniciam na música tocando rock. Começar tocando rock é muito legal, por ter o lance da energia, da pegada, da atitude, mas normalmente o rock deixa uma lacuna na parte harmônica e no swing, portanto, o músico de rock que quer migrar para o fusion vai precisar gastar um tempo aprendendo Standards, harmonias mais sofisticadas e o swing do jazz, para depois inserir estes elementos no seu habitat natural.

O contrário acontece também, principalmente nos EUA, onde muitas pessoas começam tocando o jazz tradicional e tocam unicamente com som limpo. Normalmente estas pessoas têm um conhecimento harmônico mais requintado que os roqueiros e têm a experiência de tocar sobre standards de jazz. Porém, normalmente estas pessoas têm dificuldade de captar a energia e a atitude do rock e também têm dificuldades em controlar guitarras mais furiosas, recheadas de overdrives e outros efeitos.

Portanto, cada estilo tem a sua contribuição para a música e para o fusion.

Mesmo sabendo que muitas pessoas discordam comigo no que tange a tocar jazz para se tocar fusion, acredito que a melhor opção é gastar um tempo sincero com ambos os estilos, e melhor ainda, a opção campeã é ser aberto para qualquer tipo de música de qualidade que possa contribuir, não somente para o fusion, mas para trazer algo particular a sua maneira de tocar.

O jazz é novo para você? Ouça Miles Davis, Bill Evans, John Coltane, Charlie Parker, Art Tatum, Jim Hall para começar. Já conhece o jazz é quer ouvir algo mais fusion? Que tal Miles Davis e seus discos dos anos 70, John Maclaughlin, Mike Stern, Chick Corea Ekektric band, Hermeto Pascoal. Toca jazz e nunca pisou num pedal de overdrive? Jeff Beck, Richie Blackmore, Jimi Hendrix.

E por ai vamos. Grande abraço a todos e fiquem na paz. 

Créditos: Mateus Starling

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